Terça-feira, 7 de Setembro de 2010

Estava o Rev. Francisco Coutinho Pereira, na sua residência paroquial de Marecos — «lançado em hua cama doente, de doença que Deos lhe deu, mas em todo o seu perfeito juizo que o mesmo Senhor lhe foi servido dar»—, quando aí compareceu, a seu rogo, o P.e Bernardo de Almeida Fragata — «Reytor da freguesia de Santo Adrião de Canas de duas Igrejas» — a quem ele pediu que lhe escrevesse a «sua ultima e derradeira vontade», por estar impossibilitado de o fazer. Foi isto passado no dia 28 de Nov.ode 1730.

Logo no começo do testamento, que se encontra no Arq. Dist. do Porto, vem um formoso testemunho da Fé viva desse antigo Abade de Marecos. De certo terá gosto de o conhecer, leitor amigo. Em verdade, assim principiou o P.e Francisco a ditá-lo e o P.eBernardo a escrevê-lo:
Primeiramente encomendo a minha alma à Santissima Trindade que a criou, e Rogo ao Padre Eterno pella morte e paixão de seu unigénito filho a queira receber como recebeu a sua, estando para morrer na arvore da Cruz, e a meu Senhor Jezus christo pesso por suas Divinas chagas que, já que nesta vida me fez mercê de dar seu preciozo sangue e merecimentos da sua paixão, me faça também mercê na vida que esperamos, dar o premio della que hé a gloria, e pesso e rogo á Gloriosa virgem Maria Senhora Nossa May de Deos, e a todos os Santos da Corte Celestial, principalmente ao Anjo da minha goarda e a São Francisco Santo do meu nome e Santo André meu Padroeyro, queirão por mim interceder e rogar, e a meu Senhor Jezus christo protesto de viver e morrer em a Santa fee Catholica e crer o que tem e crê a Santa Madre Igreja Catholica Romana, e nesta fee espero salvar minha alma, não por meus merecimentos mas pellos merecimentos da Santissima morte e paixão do Unigénito Filho de Deos: quero que meu corpo seja sepultado na minha Igreja Matriz com todos os ornamentos sacerdotais, que para isso tenho já ha muico tempo aparelhados no meu cayxãoo em minha caza (...)
Nada mais acrescentarei do texto testamentário: tão vincada impressão geraram em minha alma as palavras e sentimentos deste Abade de Marecos! Quedo-me hoje por aqui a meditar na inteireza da sua Santa Fé e no entranhado amor que tinha à Santa Madre Igreja Católica Romana, sem esquecer sua afeição à Matriz da paróquia e aos ornamentos sacerdotais.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1971-03-26, p.04


publicado por candeiavelha às 06:04 | link do post

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