Terça-feira, 7 de Setembro de 2010

No próximo ano a igreja da Misericórdia não deixará de estar presente no espírito de quantos se propõem celebrar conscientemente o bicentenário da cidade, já que no decurso de 1970 também serão contados duzentos anos sobre a data em que ela foi escolhida para Catedral da efémera diocese de Penafiel. Ao contemplar-se o templo, deste ângulo de perspectiva - por natural associação de ideias - não teremos forçosamente de pensar que o facto determinante de ser dado a Arrifana de Sousa o título de cidade se fundamentou na circunstância da vila daquele tempo carecer de um ornamento capaz de a habilitar a receber, condignamente, o honroso privilégio de ser elevada à categoria de sede episcopal, por virtude da criação da nova diocese de Penafiel? E se não tivera sido esse plano do Marquês de Pombal, quanto tempo a cabeça do nosso concelho não permaneceria na qualidade de simples vila? Mas não é meu intuito aprofundar agora tão importante assunto da história penafidelense: é meu propósito apenas dar um pouco de desenvolvimento à breve referência, aqui há tempos feita, relativa ao culto da Senhora da Lapa em Penafiel, na sua capela que faz parte da igreja da Misericórdia. Isto será prova, em certa maneira, de que a Catedral de outrora já está bem presente em nosso espírito.

Pinho Leal no seu Dicionário (v. Penafiel) faz uma ligeira descrição do modo como nasceu e lançou fortes raízes na alma do povo essa devoção mariana, mercê de piedosa indústria de pessoas certamente bem-intencionadas - ingénuas artes, curiosas no seu aspecto etnográfico, mas sem valia apreciável, se não dignas de reprovação, no campo puramente religioso.
Parece-me bem transcrever aqui parte dessa narrativa do aludido autor. Diz ele que «no princípio do séc. XVIII, apareceu no cunhal exterior da capela-mor da igreja da Misericórdia, pintada, uma imagem de N. S.ra da Lapa. Não se sabe por que razão a não queriam ali; pelo que a mandaram lavar, mas como não saísse a pintura, a mandaram raspar. Foi o mesmo que nada: a pintura, cada vez aparecia mais viva, e ainda hoje se conserva, como se fosse acabada de pintar!
O povo principiou a ter esta Senhora em grande devoção, e resolveu fazer-lhe uma capela, no lugar da pintura, e que ainda hoje existe» (ano de 1875).
Que a devoção à Senhora da Lapa se tornou notável em Penafiel no século de setecentos, não pode haver dúvida alguma, pois que lá está ainda a comprová-lo «uma grande obra», segundo a expressão do mesmo Pinho Leal - projectada, e em grande parte erigida, no exterior da igreja da Misericórdia, em conjugação artística, não muito destoante, com a primitiva fábrica do templo.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1969-12-05, p.05


publicado por candeiavelha às 00:28 | link do post

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