Terça-feira, 7 de Setembro de 2010

O último número do jornal «O Penafidelense», de 14 do corrente mês, traz inserta, na primeira página, uma nota assinada por Maria Marcos, sob a epígrafe «A Capela de S. Cristóvão», a propósito de uma «festinha» que nela «teve lugar no dia 14 do mês passado», celebrada, como era de esperar, com autêntico fervor e dignidade litúrgica. Fui induzido à leitura dessa nota, por causa do título de que vem encimada, pois supus tratar-se de alguma informação de carácter histórico, atinente à «capela» de S. Cristóvão de Louredo - anteriormente aos meados do séc. XVI, igreja paroquial, sob o patrocínio de orago diferente - que ultimamente me tem dado que pensar, como aqui hei-de expor, na primeira oportunidade. Mas não era da «capela» de Louredo que se tratava; aliás, a própria autora cuidara de elucidar o leitor: «a capela de S. Cristóvão é uma capelinha muito antiga, dependente da igreja da Misericórdia, que fica num dos pontos mais bonitos da cidade - a Praça Municipal». De seguida, dá-nos a razão de ser da presente invocação da capela: «restaurada aqui há anos, foi ali colocada uma lindíssima imagem de S, Cristóvão, ideia que partiu dos motoristas desta cidade, a fim de os proteger, e bem assim a todos os viajantes». Sem curar agora de saber das implicações que a reforma do calendário litúrgico possa haver trazido ao caso, direi que nada me parece estar mal - sobretudo digna de muita simpatia, a «ideia que partiu dos motoristas», da cidade de Penafiel - a não ser apresentar-se-me, como coisa menos acertada, o substituir-se a originária invocação da capela, com idade superior a duzentos anos, por uma outra que não tem ligação alguma com a história da igreja da Misericórdia.

O povo tem razão quando diz que não é bonito nem se deve fazer, «despir um santo para vestir outro». Não será este o caso de se «despir» a Senhora da Lapa da sua capela para se «vestir» nela S. Cristóvão? Ao menos, por enquanto, lá está ainda a imagem, em pedra, da Senhora da Lapa, colocada, em seu nicho, a atestar a posse secular da sua invocação. Merecia a pena dizer-se algo mais a respeito da história da Senhora da Lapa em Penafiel de Sousa. Hoje, já não posso fazê-lo, por míngua de espaço. Será para a próxima vez, se Deus assim quiser... e os homens o consentirem. Já agora, só mais umas palavrinhas, como que à maneira de pós-escrito. Antigamente, quem valia aos viandantes era a Senhora da Guia - ainda vemos suas ermidas, à margem das estradas «velhas»; se não temos a protecção de S. Cristóvão, em meio de tantos perigos que nos cercam, nas estradas dos nossos dias - que há-de ser nós? S. Cristóvão nos valha!
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1969-10-24, p.06


publicado por candeiavelha às 00:27 | link do post

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