Terça-feira, 7 de Setembro de 2010

Nos tempos mais chegados do século de quinhentos, assinala-se grande progresso no burgo de Arrifana. Não se pretende analisá-lo desta vez em pormenor nem apontar os factores que intervieram na sua génese, mas tão-somentee pôr em relevo um facto importante de natureza eclesiástica, consequente desse fenómeno evolutivo: a criação da paróquia de S. Martinho de Arrifana na segunda metade do séc. XVI. Este acontecimento é sinal bem manifesto de que a povoação, tão minúscula como apagada no séc. XIII, já havia conquistado ascendência socioeconómica, bastante considerável em relação ao tempo, sobre todos os lugares circunvizinhos a par de uma preponderância de carácter, digamos, político-administrativo, resultante de ter sido preferida para cabeça concelhia das terras de Penafiel, desde os fins do séc. XIV. Só assim se explica que fosse levado a bom termo o projecte duma radical alteração de todo o quadro paroquial em que estava inserida desde o começo da sua existência. Como é sabido, a circunstância dessa profunda reforma ir de encontro aos direitos seculares da igreja matriz de Moazares, de tão nobres tradições, sem contar outros entraves originados no próprio seio do burgo arrifanense, havia de tornar difícil a realização da tarefa projectada. Mas desçamos a pormenores. Como se pode verificar no Censual da Mitra, a igreja do Espírito Santo de Arrifana era «capela» da igreja de S. Martinho de Moazares — condição que deveria ser existente desde o primeiro templo ali fundado com essa invocação, provavelmente no séc. XIV. Conhecido é que o vocábulo «capela» exprimia naquele tempo a existência de um especial regime paroquial sujeito à dependência de outra freguesia ou mosteiro, quer dizer, representava canonicamente um estado de subordinação (cf. Introdução de A Diocese e a Mitra do Porto, fls. 52, p. Dr. Cândido A. Dias dos Santos). Compreende-se, pois, que Arrifana ao pretender apossar-se do orago e seculares direitos de primazia de Moazares, provocasse uma forte reacção de protesto da parte dos lugares mais afectos à sua velha matriz. A este propósito, é costume apresentar-se como símbolo bem curioso dessa animosidade o caso do lavrador de Aveleda que ficara cego na altura em que S. Martinho ia ser conduzido em procissão para a nova igreja de Arrifana, o que se encontra descrito no opúsculo A Freguesia de S. Martinho de Moazares, p. 30, da autoria de A. Miranda. Outra reacção não menos adversa se verificou contra o projecto da construção de novo templo para servir de matriz em Arrifana. Mas isso obriga a delongas que hoje não me são consentidas.

M0NAQUIN0


publicado por candeiavelha às 00:41 | link do post

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