Terça-feira, 7 de Setembro de 2010

Como é bem sabido, neste ano decorrente, vão perfazer-se, muito em breve, duzentos anos sobre a data em que o nome arcaico de Arrifana fora sacrificado ao advento da nova cidade, que tomou assento no lugar da antiga vila. A multissecular Arrifana de Sousa fora riscada da toponímia regional e surgia, em sua vez, o nome e cidade de Penafiel, para subida honra da nossa terra.

Ninguém haverá contentado o acerto dessa mudança toponomástica. Havia razões, de carácter histórico e político, a inculcar tal mutação, como adiante se verá. De resto, qual de nós seria capaz de preferir uma cidade denominada Arrifana à custa da rejeição do sugestivo topónimo Penafiel? Este é um nome mais expressivo e eufónico, mais simpático, por ser mais nosso, na cor latina que apresenta, ao invés da filiação árabe que hoje ninguém impugna existir na palavra Arrifana. (Não se veja ressaibo algum de racismo, ao fazer tal asserto, embora não seja de estranhar surpreender-se, no mais íntimo de todo o português de lei, uma semi-inconsciente antipatia ancestral por tudo que possa sugerir a lembrança da velha opressão da moirama). Depois que Fr. João de Sousa, afamado arabista, publicou, em 1760, o seu trabalho Vestígios da Língua Arábica em Portugal, creio que nenhum escritor verdadeiramente culto se permitiu apontar uma etimologia de origem diferente. O que sucedeu com muitos, até os nossos dias - desde o Dr. António de Almeida ao P.e Monteiro de Aguiar - foi, baseados na «autoridade» de Fr. João, atribuírem como ele erradamente o vocábulo árabe «Arrahana», com o significado de «horta», como étimo de Arrifana, em vez de «Arríhâna», «Alrihanat» ou «arrayan», nome de «mirto», em língua arábica.
Devo dizer que não exprimo opinião original nesta matéria, por nada conhecer de filologia árabe: limito-me a transmitir conclusões de abalizados autores modernos. Mais acrescento não me responsabilizar pela exactidão das formas arábicas transliteradas, por dificuldades da ordem gráfica. O leitor curioso de tais etimologias encontrará uma informação segura na obra póstuma do nosso maior arabista, David Lopes, publicada em 1968, com o título Nomes A'rabes de Terras Portuguesas - colectânea do Dr. J. Pedro Machado. Para este mesmo assunto poderá consultar-se ainda, com vantagem, o vol. XXXVIII da G. Enciclopédia Port. e Bras. (Apêndice), v. Arrifana. O topónimo Arrifana não procedeu, é certo, de qualquer «horta», nem tão pouco de, «arraião» ou «murta» que fosse plantada pelos sarracenos, a quando da sua passagem ou permanência, que não foi muito efectiva, na nossa terra. Então quando e como é que entrou essa palavra no vocabulário e toponímia da nossa região?
Já não há hoje cabimento para uma resposta, que não pode ser sucinta, pois o assunto envolve certa complexidade. Depois assim veremos.
MONAQUINO

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publicado por candeiavelha às 00:33 | link do post

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