Terça-feira, 7 de Setembro de 2010

Num destes dias de sol refulgente, subi pela primeira vez ao Monte de S. Antão. Fui pelo caminho mais curto, depois de chegar ao Calvário. Encantado com a riqueza da paisagem - misto de aspereza e graciosidade - e surpreendido com a largueza do panorama. Mas onde fica situado o Monte de S. Antão? Não é muito conhecido, apesar de ser um braço do Mozinho, que se estende sobre a área de S. Paio da Portela - parte pequena de um grande todo. Queria agora perguntar a mim mesmo se era capaz de subir o Monte por amor das lindas vistas? Não era. A subida é muito íngreme. O que me arrastou para o Alto foi uma força misteriosa que se me entranhou na alma. Foi uma espécie de tentação irresistível de ver de perto e tocar um lugar santo - santificado pela presença, durante séculos, da imagem do Patriarca dos cenobitas, S. Antão, Abade, que ali estivera numa ermidinha, da sua invocação. Era uma ermida do povo. A inclemência do tempo e a incúria dos homens arruinou-a de vez, há cerca de trezentos anos. Não falta documentação que o ateste. A ermida arruinou-se e o Santo perdeu, juntamente com ela, o trono de maravilha que a natureza lhe ofertara. Não sei quem o despediu lá do Alto, donde, dia e noite, deitava a sua bênção aos fregueses de S. Paio e à gente das redondezas e aos animaizinhos entregues à sua guarda. Forçaram-no a descer. E o santo anacoreta, de semblante macerado, foi-se acolher à igreja da freguesia. Talvez por compaixão, ainda lhe deram um lugar de respeito. Segundo leio na memória do Abade de S. Paio, do ano de 1758, a imagem do «Milagroso confessor de Christo Senhor noso S. Antam" encontrava-se colocada, nessa data, no «retavolo» do altar-mor, do lado da Epístola, logo a seguir ao Padroeiro, que estava, como lhe é dado, da parte do Evangelho.

Depois, não sei quando nem porquê, teve de deixar também este lugar tão honroso. Mas ao menos, não o puseram fora da igreja, nem jamais lhe faltou a devoção dos fiéis, que amiúde lhe vão pedir a bênção, com muita Fé. Pior foi o destino de S. Iria que teve de abandonar o seu mosteiro, descer também do Mozinho, e acabar por ser levada para longe da sua terra, sem ter hoje uma única tecedeira que a venere. Um desterro... Não se fazia tal desfeita. Pobres santos, que tão amigos sois do povo e tantas vezes obrigados a andar em bolandas, por causa do desatino dos homens!
MONAQUINO
In Jornal Notícias de Penafiel, 1969-05-09, p.04


publicado por candeiavelha às 00:03 | link do post

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