Ninguém poderá descrever fielmente a vida social e político-administrativa de Arrifana e Penafiel de Sousa, ao longo dos últimos quatro séculos, sem incluir, na urdidura desse trabalho, extenso capítulo respeitante ao papel de relevo desempenhado na história da nossa terra pela família Garcês. (Leite de Vasc., na sua Antroponímia Port., ao tratar do apelido Garcês, afirma que o seu étimo «deve ser um patronímico», pois já no séc. XV aparece a forma com — s; não se estranhe por isso que não use a tradicional grafia com — z). Todo o homem culto, desconhecedor da actuação pública e particular dos membros desta linhagem, há-de aperceber-se decerto da importância que tiveram, dentro do meio do seu tempo, ao deparar, na rua Direita, com a frontaria do solar, algo modesto sem deixar de ser característico, que foi moradia secular dos Garceses. Mais convencido ficará ao observar na Igreja matriz de Penafiel a Capela do Senhor dos Passos, outrora seu fidalgo senhorio. Não estaria a carácter nem seria decoroso expor aqui a frondosa árvore da sua genealogia, à luz de uma «candeia». De resto, sem desfazer em ninguém, estas coisas sempre hão-de ser matéria fastidiosa para o comum dos mortais. Contentar-me-ei, pois, em apontar somente a via pela qual os Garceses de Arrifana vão entroncar no burguês João Correia — o que muito bem conhece quem folheia nobiliários. Neste caso não haverá complicações de maior. Foi assim, desta maneira: uma filha do rico mercador e da segunda mulher deste (Brites Eanes de Madureira), chamada Brites Correia, casara-se com Antão Garcês, natural do Porto, descendente dos Garceses desta cidade. Daqui, quer dizer, do tronco avoengo de Antão Garcês e de sua mulher Brites Correia, é que proveio toda a estirpe dos Garceses nados e criados em Penafiel e seu termo, ramificados depois por terras mui distantes. A maior parte deles viveu sempre à lei da nobreza, como diziam os antigos, mas alguns, devido aos vaivéns da fortuna, ficaram reduzidos à condição de plebeus mal remediados.
COM A COLOBORAÇÂO DO