Terça-feira, 7 de Setembro de 2010
As artes e ofícios que floresceram outrora em Arrifana de Sousa não podem deixar de ser considerados factores importantes do seu progresso. Como tais merecem ser postos em relevância no «festivo ciclo» ainda decorrente, Deus louvado! Humildes embora alguns desses mesteres deram todos quota parte de valia para o engrandecimento do burgo: daí a razão de ser desta singela evocação.
Um dia me ocorreu a ideia de organizar um pinturesco cortejo (em escrita, é bem de ver) de quantos artífices, oriundos ou moradores na terra, me iam aparecendo ao longo de velhos manuscritos, a cuja leitura era muito dado então. Nesse fito, cheguei mesmo a juntar boa soma de nomes de mesteirais que vai agora servir de base a esta anotação ligeira. Apontarei a esmo artes e ofícios, sem me prender com distinções de nobreza já que a houve em certo modo também nesta matéria, tida vulgarmente de natureza plebeia. Mais queria acrescentar ainda ter-me valido, nesta amena tarefa, dos livros de registo paroquial de S. Martinho de Arrifana de Sousa. Vem a propósito dizer-se que estes «livros findos» só tiveram início no ano de 1610 coisa mui lamentável, sobretudo para os apaixonados linhagistas. Como é sabido, o registo paroquial dos baptizados, casamentos e óbitos só começou a ser obrigatório em toda a parte a partir do Concílio Tridentino e por isso é que a quase totalidade dos livros existentes só teve princípio no último quartel do séc. XVI, ou depois disso. Dentro do nosso concelho, constitui uma excepção o registo paroquial de S. Miguel de Paredes, freguesia que o conta desde 1542graças à iniciativa do Abade António Dias, que já então o iniciara.
Avezado como sou a divagações, vejo-me agora com míngua de espaço para versar hoje o tema das artes e ofícios de Arrifana... Tenho de contentar-me por isso com transcrever somente um termo de casamento do L.o 3.° do R. Paroq. desta freguesia de S. Martinho, que lá vem a fls. 50 maneira prática até de se mostrar a utilidade variada de tais livros do passado. O assento diz assim: «António Ferreira de Sousa, preto forro q. ficou do Padre Manuel Delgado Duarte deste lugar, official de Sapateiro, vindo de Pernambuco em pequeno, e criado neste ditto lugar em Casa do ditto Padre, e nelle sempre morador; se recebeo em Matrimonio por palavras de presente em face da Igreja, e na minha presença e das testemunhas infra asignadas na forma do sagrado Concílio Tridentino e Constituiçam deste Bispado; Com Jacinta Correa, mulher branca, filha legitima de Paulo Ribeiro, peneireiro, e de sua mulher Anna Correa, a tripeira do Pelourinho, deste lugar, e freguesia. Aos vinte e sette de Março do anno de mil e settesentos, e dezanove. Sem bênçãos por nam ser tempo dellas, e ella ter //...//; de que fiz este termo na verdade, dia, mes e anno ut supra.
O Rector Manoel Carn.ro da Silva».
No termo transcrito, além do mais, surge à baila um «official de Sapateiro», um «peneireiro», mai-la sua mulher, «a tripeira do Pelourinho»... Côr e vida de velhos manuscritos!
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1970-07-24, p.01

 



publicado por candeiavelha às 00:53 | link do post

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