Ao pensar na maneira mais fácil e agradável de dar um contributo válido, ainda que modesto, para a celebração do bicentenário de Penafiel, nada mais adequado se ofereceu ao meu espírito do que pôr em narração despretensiosa as reflexões que venho fazendo para mim mesmo, desde há anos a esta parte, sobre o passado da cidade. Decidi-me a começar... e daí esta minha introdução. Hão-de ser, com certeza, considerações bastante genéricas e desprovidas de inteira originalidade, na sua maior parte, mas sem dúvida sempre expressas com o propósito de só dizer a verdade, já que também, ao abordar este tema, a fantasia se tem sobreposto por vezes ao rigor da exactidão requerido pela autêntica história. Nesta linha de orientação será tomado por Mestre o conhecido Dr. António de Almeida, distinto polígrafo, de origem conimbricense, autor da muito citada «Descrição Histórica e Topográfica da Cidade de Penafiel», publicada em 1830, no tomo X das Memórias (1.a série) da Academia R. das Ciências, de que ele foi muito ilustre sócio. Fora de dúvida que não se trata de uma obra volumosa e profunda, mas deve considerar-se ainda hoje fundamentalmente actual e a mais bem acabada, como trabalho de conjunto, de quanto se escreveu, até aos nossos dias, sobre o passado de Penafiel.
O grande mérito do Dr. António de Almeida foi o de ensinar praticamente aos homens do meio penafidelense a metodologia a usar na indagação respeitante aos tempos idos, por recurso às genuínas fontes, e também a maneira de retratar o presente, em moldes de rigor científico - novos caminhos, de verdadeiro sentido crítico, por onde já tinha enveredado a historiografia moderna, expurgada do que era lendário e elaborada à base de documentação fidedigna. (Com tudo isto, longe do meu pensamento querer minimizar a importância literário científica de quantos, depois de António de Almeida, se debruçaram sobre a arqueologia e a história de Penafiel; muito ao contrário, pretendo realçar o seu valor, sempre que não se arredaram da peugada de tão insigne Mestre - bem presentes na memória Simão R. Ferreira, Coriolano de F. Beça, Ernesto de Melo, e muito particularmente, o P.e J. Monteiro de Aguiar e Abílio Miranda).
Se bem me lembro, vai para uns quatro anos, propôs-se à saudosa Comissão de Cultura de Penafiel uma reedição da referida «Descrição» do Dr. A. de Almeida, na altura da celebração do bicentenário da cidade. Continuo a julgar que isso seria um bom serviço cultural prestado a Penafiel e a melhor maneira de render uma justa homenagem a quem, não sendo oriundo da nossa terra, a adoptou como sua, trabalhou por ela no exercício da sua profissão de abalizado médico e elevou bem alto o seu nome, graças ao prestígio intelectual que gozava no país.
N. «Em Notícias de Penafiel», de 2 e 23 Fevereiro de 1962 (ano I - n.os 40 e 49) encontrará o leitor referência mais pormenorizada à origem e vida do Dr. A. Almeida,
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1970-02-06, p.06