À maneira de exórdio, um ligeiro apontamento acerca dum capítulo importante da história geral do ano de 1644. A Europa desse tempo, cansada de muito guerrear por questões político-religiosas e ambições de predomínio, ansiava por fruir uma paz duradoira. Reclamava-se o termo definitivo duma luta que se arrastava há mais dum quarto de século e que ficou na história com o nome de «guerra dos trinta anos». As potências de maior relevância na política europeia haviam-se concertado para se reunirem na Alemanha a fim de se alcançar tão almejada pacificação. Foi escolhida a Vestfália para as negociações. Em ordem a obviar a desentendimentos resultantes das preocupações de primazia da França e da Suécia, foram estabelecidas assembleias separadas em Múnster e Osnaburgo — cidades desse território alemão, à distância duma quarentena de quilómetros uma da outra. Em Múnster, presidiam os franceses com a presença dos representantes dos países católicos; em Osnaburgo, os suecos tendo a seu lado os plenipotenciários protestantes.
Portugal viu claramente a óptima oportunidade que se lhe oferecia de cimentar a sua Restauração mediante as armas da diplomacia. Uma vez que a Espanha, de mãos dadas com a Alemanha, se opunha tenazmente a que os delegados de Portugal tomassem assento nas assembleias da Vestfália — D. João IV houve por bem determinar que os seus representantes se dirigissem à corte da rainha da Suécia (esta nação, bem como a França, Inglaterra, Holanda e Dinamarca tinham reconhecido a nossa independência) com o objectivo de que o patrocínio sueco lhes facilitasse o ingresso em Múnster e Osnaburgo.
Este prelúdio alongou-se. O intuito foi evidenciar a importância das dificuldades que encontraria a embaixada enviada por El-Rei. Foram escolhidos para missão tão difícil três Garceses descendentes de progenitores radicados em Arrifana de Sousa: o Des.or Rodrigo Botelho de Morais, na qualidade de Embaixador, o seu parente L. do Santos Garcês da Mota, como Secretário, e o sobrinho deste, Manuel Garcês da Mota. Com a ajuda dos suecos, conseguiram chegar a Osnaburgo. Botelho de Morais faleceu em breve e os inimigos de Portugal «apoderaram-se-lhe do cadáver». Santos Garcês também não sobreviveu muito tempo depois da morte do primo. A Manuel Garcês da Mota coube o encargo de trazer a D. João IV «as cartas da Rainha da Suécia» e os «ossos» do seu tio Santos Garcês, que depositou na Capela do S.or dos Passos, de S. Martinho de Arrifana. Isto consta do «Alvará de Mercê», que lhe concedeu El-Rei, do ofício de Escrivão do público e judicial, «que serviu e conservam seus descendentes, no julgado de Penafiel» — dado em Lisboa a 6 de Março de 1644 (L.º 2 dos registos, fls. 117).
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1970-05-29, p.06