Vejo-me em palpos de aranha por causa da promessa que fiz de dizer aqui qual a proveniência do nome singular com que agora me assino. Receio ser enfadonho e, além disso, não fica bem vir para um jornal ocupar-me de mim mesmo. É feio.... No entanto, entre perder simpatia a arriscar os créditos da honradez, não posso hesitar: vou cumprir a palavra dada, muito mau grado meu!
À força de me ouvir falar, com insistência e paixão, do nosso Monte Mozinho - por amor da sua beleza panorâmica e importância arqueológica - o povo começou a apelidar-me de Monaquino. Não sei por que arte a nossa gente descobriu palavra tão sugestiva e com ares de erudição. Bem certo é que o povo muitas vezes é Mestre, sem o saber. Engracei com o nome e adoptei-o como próprio, indo logo abrir a sua assinatura na Nota do tabelião de Arrifana de Sousa. Com certeza que gostei do seu todo por ter enxergado nele uma ascendência helénica.
Mas agora muito a sério: não me enganei com as aparências. O vocábulo monaquino vai justamente entroncar no grego monachós.Os latinos acharam expressivo o termo monachós e transplantaram-no para a sua língua. Em dada altura, dentro do latim, da sua forma monachus, por obra do sufixo - inus, surgiu a palavra derivada monachinus. Deste neologismo daquele tempo, em legítima filiação, era natural que nascesse, no português, um autêntico monaquino. Em abono da verdade, devo dizer que nunca li texto antigo onde ele se encontrasse, embora bons dicionaristas o apresentem, sem indicação da procedência (vide Elucidário - Viterbo - voc.monachino e molachino). O que não oferece dúvida alguma é que o monachinus evoluiu para monacinus, no latim vulgar, e que este é o étimo directo do nosso arcaico mozinho (com z e não com s), cuja existência está de sobejo documentada, ao longo de séculos.
Todo este arrazoado não visava tanto uma conclusão de carácter filológico, como à primeira vista poderia parecer; antes teve em mira mostrar quão estreitos são os laços de consanguinidade entre o moderno Monaquino e o medieval Mozinho.
Com um parentesco assim tão chegado, e tão abrasado amor do coração, diga-me o leitor amigo, por favor, como é possível que eu deixe de falar, amiudadas vezes, do nosso querido Mozinho?
MONAQUINO
In Jornal Notícias de Penafiel, 1969-05-02, p.04