A «Candeia Velha» fora rogada para dar sinal de vida e afirmar continuidade da sua permanência em «Notícias de Penafiel» a quando do encerramento das comemorações bicentenárias da cidade.
A ferrugem dos anos que tem e a sua luz mortiça deviam aconselhá-la a não ceder à tentação de ser pôr em lugar de evidência aparecendo em público em maré tão festiva. Assim pensava, mas depois pareceu-lhe não ficar nada mal a uma «Candeia Velha» figurar numa festa que é afinal um remate colectivo de toda a evocação de velharias da nossa terra, feita ao longo deste ano do Bicentenário. Vistas as coisas por este prisma, ninguém há-de reparar que a «Candeia entre na função.
No entanto, apesar de tudo, por amor de se guardar melhor de qualquer mofa ou detracção — que hoje em dia aparece sempre um contestante em toda a parte, seja por fás ou nefas — resolveu fazer-se acompanhar à festa, de braço dado com um autor muito conhecido, do século passado, incansável divulgador das curiosidades históricas de todas as terras do País — o nosso Pinho Leal. Sabe-se que as suas afirmações são por vezes pouco válidas, mas creio que a passagem do Portugal Ant. e Mod. que vai transcrever-se aqui, deve merecer crédito ao leitor. Falando da nossa cidade, diz ele em certa altura: «Há em Penafiel diferentes indústrias, sendo a principal a fabricação de selas, selins, albardas e mais arreios para cavalgaduras, que se exportam em grande quantidade.
Mas a indústria que mais celebrizou a terra foi a fabricação de candeias de ferro, estanhadas, saindo desta cidade, anualmente, muitos centos de milheiros delas, que invadiam todos os mercados do Reino, indo ainda abastecer os estrangeiros. Chegaram a haver perto de 30 forjas, com 30 bigornas, que davam que fazer a 4 pessoas, cada bigorna — tudo a fazer candeias! De 1820 por diante, alguns oficiais (candeeiros) se foram estabelecer em Paredes de Aguiar de Sousa, no Porto e até em Lisboa.»
Acrescenta depois Pinho Leal: «Com a descoberta do petroline, decaiu muito esta indústria: mesmo assim, em 1874, só um negociante daqui, exportou, de uma vez, para o estrangeiro 200.000, por não ter mais naquela ocasião!».
O citado autor fala no mesmo passo doutra indústria da cidade: a da «factura de socos (tamancos)», também objecto de muita exportação, e «justamente reputados os mais bem acabados do Reino». Ele mesmo, em 1860, comprara numa feira em Penafiel uns tamancos por meia libra; «mas têm-se vendidos muitos a 4$50 reis cada par!». Alguma coisa escreveu ainda P. L. acerca de «botas e sapatos» de Penafiel antiga, mas são horas de acabar... Só direi, por fim, que gostava muito de ver tomar parte no cortejo do p. domingo — em lugar de honra — os albaldeiros, os ferreiros, (particular.te os candeeiros), os tamanqueiros e os sapateiros da nossa terra, em tempos idos. Lá isso gostava eu!
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1970-09-18, p.04