Terça-feira, 7 de Setembro de 2010
A «Candeia Velha» fora rogada para dar sinal de vida e afirmar continuidade da sua permanência em «Notícias de Penafiel» a quando do encerramento das comemorações bicentenárias da cidade.
A ferrugem dos anos que tem e a sua luz mortiça deviam aconselhá-la a não ceder à tentação de ser pôr em lugar de evidência aparecendo em público em maré tão festiva. Assim pensava, mas depois pareceu-lhe não ficar nada mal a uma «Candeia Velha» figurar numa festa que é afinal um remate colectivo de toda a evocação de velharias da nossa terra, feita ao longo deste ano do Bicentenário. Vistas as coisas por este prisma, ninguém há-de reparar que a «Candeia entre na função.
No entanto, apesar de tudo, por amor de se guardar melhor de qualquer mofa ou detracção — que hoje em dia aparece sempre um contestante em toda a parte, seja por fás ou nefas resolveu fazer-se acompanhar à festa, de braço dado com um autor muito conhecido, do século passado, incansável divulgador das curiosidades históricas de todas as terras do País — o nosso Pinho Leal. Sabe-se que as suas afirmações são por vezes pouco válidas, mas creio que a passagem do Portugal Ant. e Mod. que vai transcrever-se aqui, deve merecer crédito ao leitor. Falando da nossa cidade, diz ele em certa altura: «Há em Penafiel diferentes indústrias, sendo a principal a fabricação de selas, selins, albardas e mais arreios para cavalgaduras, que se exportam em grande quantidade.
Mas a indústria que mais celebrizou a terra foi a fabricação de candeias de ferro, estanhadas, saindo desta cidade, anualmente, muitos centos de milheiros delas, que invadiam todos os mercados do Reino, indo ainda abastecer os estrangeiros. Chegaram a haver perto de 30 forjas, com 30 bigornas, que davam que fazer a 4 pessoas, cada bigorna — tudo a fazer candeias! De 1820 por diante, alguns oficiais (candeeiros) se foram estabelecer em Paredes de Aguiar de Sousa, no Porto e até em Lisboa.»
Acrescenta depois Pinho Leal: «Com a descoberta do petroline, decaiu muito esta indústria: mesmo assim, em 1874, só um negociante daqui, exportou, de uma vez, para o estrangeiro 200.000, por não ter mais naquela ocasião!».
O citado autor fala no mesmo passo doutra indústria da cidade: a da «factura de socos (tamancos)», também objecto de muita exportação, e «justamente reputados os mais bem acabados do Reino». Ele mesmo, em 1860, comprara numa feira em Penafiel uns tamancos por meia libra; «mas têm-se vendidos muitos a 4$50 reis cada par!». Alguma coisa escreveu ainda P. L. acerca de «botas e sapatos» de Penafiel antiga, mas são horas de acabar... Só direi, por fim, que gostava muito de ver tomar parte no cortejo do p. domingo em lugar de honra os albaldeiros, os ferreiros, (particular.te os candeeiros), os tamanqueiros e os sapateiros da nossa terra, em tempos idos. Lá isso gostava eu!
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1970-09-18, p.04

 



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