Quem decidir ocupar-se do problema da fundação da igreja de S. Martinho de Arrifana necessariamente tem de referir-se ao que se passou naquele tempo à volta da capela do Senhor dos Passos, adjunta à nave lateral esquerda da Matriz de Penafiel. Não se conhecem bem as razões que levaram o povo de Arrifana a preferir para local da erecção da nova igreja o terreno ocupado então pelo templo do Espírito Santo que o mercador João Correia havia reconstruído todo à sua custa, no gosto da época manuelina, havia poucas dezenas de anos — cuja capela-mor destinara a sua jazida e lugar de sepultura da família. Fazia-se mister erguer um templo mais amplo capaz de comportar os fiéis das três igrejas (a de Moazares, Espírito Santo e Louredo) então incorporadas na única comunidade paroquial de S. Martinho de Arrifana. Vai daí, por amor disso, projectar-se o desmantelamento de toda a obra de arte levantada pela mão do rico mercador, com tão devotado empenho como avultado dispêndio. Daqui se originou renhida contenda entre a população do burgo e um filho de João Correia, de nome Gonçalo, que saiu a terreiro a pugnar pelos direitos adquiridos por seu pai. Como remate da demanda, acordou-se em manter de pé a capela-mor do Espírito Santo, tal-qualmente se encontra ainda hoje, demolido tão só o que era então corpo da igreja. Salvou-se, desta sorte, de destruição total um apreciável exemplar histórico do nosso património artístico, de que Penafiel deve orgulhar-se. O ajuste entre as partes litigantes fora firmado juridicamente por uma escritura pública lavrada na cidade do Porto, nas casas de morada do tabelião Ruy de Couros aos 7 dias de Junho de 1559. Tinha, muito interesse para o nosso caso conhecer--se o texto desse convénio, mas infelizmente não existem arquivados os livros de notas desse tabelião do Porto. Que me conste, também não se sabe do paradeiro da cópia desse documento que existira outrora no cartório paroquial de Arrifana de Sousa.
COM A COLOBORAÇÂO DO