Terça-feira, 7 de Setembro de 2010

Tem-se dito muito mal dos Abades mais clero do séc. XVIII e também dos que viveram noutros séculos. Há

quem se deleite em esquadrinhar toda a sorte de mazelas, reais ou imaginárias, dos clérigos dos tempos idos (quanto aos do tempo presente nem vale a pena falar...). Os que se dão à tarefa de revolver papéis velhos certo é que hão-de encontrar, por força das circunstâncias, a par de muita coisa edificante, factos denunciadores de falta de limpidez de carácter e míngua de aprumo moral. Tal acontece por ter existido sempre a fragilidade do humano barro de que todos somos formados, que sempre hei-de acompanhar o homem até o fim dos séculos. Agora o que não é aceitável e merece franca reprovação é haver quem ande à cata disso por amor do prazer mórbido de infamar ou denegrir o nome de outrem. Do que fica dito, pois, claramente se deduz o bom propósito que me leva a falar dum Abade de Marecos que nesta freguesia viveu no final do séc. de seiscentos e mais dum quarto do séc. de setecentos.
Quando há bastantes anos subi pela vez primeira até junto da igreja de S. André de Marecos, prendeu-me a atenção uma inscrição gravada na frontaria do templo, por cima da porta principal, de fácil leitura. Creio serem estes os dizeres:
O Abb.e F. C. P. A MANDOU FAZER A. D. 1728» Li-a desta maneira: O Abade Francisco Coutinho Pereira a mandou fazer no ano do Senhor (Anno Domini) de 1728. Pude verificar mais tarde que não me enganei quanto ao nome do Abade. Vim a saber donde fora oriundo e que, pelo lado paterno, entroncava na distinta família que viveu na Casa da Seara, na margem direita do Douro, freg.a de Magrelos, do conc.o do Marco, cuja genealogia é bem conhecida, por andar nos nobiliários, A Casa da Seara de Magrelos ligou-se por casamento com uma de Entre-os-Rios e
daí talvez ser denominada também da Seara uma Casa nesta povoação, onde tem vivido há muitas dezenas de anos a ilustre família Barroso Pereira.
O P.e Coutinho Pereira tivera quatro irmãos clérigos: dois religiosos de S. Francisco, um beneditino e outro membro da Comp.ª de Jesus. Um deles, o franciscano P.e Fr. Manuel do E. S., faleceu na residência paroquial de seu irmão, em 8-11-1717, tendo ido a enterrar ao convento de S. Ant.° de Arrifana de Sousa.
O Ab.e Francisco C. P. sucedera ao Ab.e Domingos Pinto, cujo falecimento ocorreu a 13-1-1685. Foi pároco de Marecos mais de 45 anos, pois ainda era o Abade desta freg.ª quando morreu em 13-12-1730. Foi sepultado na capela-mor da sua igreja paroquial. Já não há hoje lugar para o elogio deste Abade. Ficará para outra vez. O louvor que se há-de tecer a este antigo pároco de Marecos será todo fundamentado no testamento com que faleceu de que tenho em minhas mãos uma cópia fiel.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1971-03-12, p.04


publicado por candeiavelha às 06:03 | link do post

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