Terça-feira, 7 de Setembro de 2010

Não será impertinência repetir que se engana redondamente quem acreditar nos dizeres da inscrição existente na porta principal da chamada capela de S. Cristóvão, em Penafiel. Aquele despropósito apresenta-se-nos como algo de afrontoso da ilustração dos penafidelenses e deveria ser eliminado em nome do decoro intelectual de todos nós — tanto mais que a capela ainda é hoje pertença da Igreja e não de modo algum propriedade particular. E mais que evidente ser destituída de fundamento sério a data atribuída à erecção do templo, bem como não deixa de ser erro menos crasso a afirmação de ter sido «a primeira matriz de Arrifana de Sousa» seja no ano apontado de 1741 ou mesmo em qualquer outra época remota. Como já foi exposto, no séc. XVII e XVIII figura na documentação com o nome de «ermida de S. Bartolomeu», pertencente à freguesia de S. Mart.° de Arrifana de Sousa: anteriormente ao segundo quartel do séc. XVI, fora de facto a sede da paróquia de S. Tiago de Louredo, mas nunca poderia ter sido a matriz de Arrifana. Não me parece fácil provar-se que a povoação ou burgo de Arrifana de Sousa fizera parte algum dia da área paroquial de Louredo. O topónimo Arrifana, como já se viu, aparece pela primeira vez no ano de 1258, no final da inquirição concernente à freg.a de S. Mart.° de Moazares, e nunca se encontra registado nos textos referentes à paróquia de Louredo

Nas Memórias do Mosteiro de Bustelo (ms., fls. 122 v.) Fr. A. Meireles diz-nos que o Abade D. Fr. João Anes emprazou a Fernão Gonçalves e sua mulher, em 9-12-1452, «uma morada de casas sitas em Arrifana q. partia com a igreja de Santo Espírito». Não se sabe de quando dataria o templo do Espírito Santo em Arrifana.
Abílio Miranda, no seu opúsculo A Igreja Matriz da Cidade de Penafiel [1942), admite a hipótese de ter sido de fábrica românica, o que não se me afigura muito provável. Seja como for, o que mais interessava ao nosso caso era saber qual a categoria canónica desse templo dedicado ao Espírito Santo. Igreja paroquial ou não, creio bem haver estado sempre na dependência da freguesia de S. Martinho de Moazares e nunca eclesiasticamente subordinada à de S. Tiago de Louredo. Assim penso baseado na convicção de que essa igreja de Arrifana se encontrava edificada num lugar que sempre pertencera à paróquia de Moazares que exercia, por outro lado, o direito de apresentar o pároco na igreja de S. Tiago de Louredo. Demais, no Censual da Mitra (1542), depois de se falar da taxa e apresentação de S. Martinho de Moazares, diz-se expressamente que «a igreja do samto espiritu da Rifana é sua capela». Embora o significado do vocábulo «capela» fosse diferente do sentido que se lhe atribui em nossos dias, é fora de dúvida que não deixava de expressar uma certa subordinação eclesiástica, que neste caso se dava em relação à igreja de Moazares e não à de Louredo. Em suma, não se encontra prova alguma de que a igreja de S. Tiago de Louredo fora em qualquer tempo «a primeira matriz de Arrifana de Sousa».
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1970-04-10, p.06


publicado por candeiavelha às 00:40 | link do post

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