Terça-feira, 7 de Setembro de 2010

Ia a caminho de Arrifana de Sousa, com deliberado propósito de fazer sintético comentário aos casos de escravatura observados ao longo deste viandar, senão quando, a meio da jornada, me vejo detido, de muito bom grado, por amor de uns escravos que me despertaram particular atenção. Desta vez, fregueses de Paço de Sousa. Dois deles, depararam-se-me por alturas de S. Ovaia de Esmegilde (lindo nome medievo: assim chamada a área de Paço de Sousa mais à banda do poente, que era freguesia à parte, ainda em meados do séc. XVI); para mais rigor de exactidão, direi antes que isso teve lugar nas casas que foram morada de Manuel da Cunha Osório, sitos em Sobcarreira. Este senhor Cunha Osório viveu à lei da nobreza. Seus pais também viveram assim: o L.do Mateus Dias Borges, natural de S. Tiago de Cernadelo, ao tempo do Arcebispado de Braga, e sua mulher Maria de Araújo da Cunha Osório Coutinho, de Esmegilde - casados em Paço de Sousa, a 4-2-1689. A importância social da família Cunha Osório, naquele tempo, ficou bem patente numa pedra de armas, assente na frontaria da sua casa, assim como numa capela, dedicada à Senhora da Conceição, que o referido licenciado mandou erigir, junto da moradia, no ano de 1717 - restaurada há poucos anos, com ausência de bom gosto. Várias gerações de Cunhas e Osórios residiram em Sobcarreira, donde se ramificaram por casas de preponderância, em Paço de Sousa e terras circunvizinhas. Apenas deixo anotado que os Cunhas Osórios de Sobcarreira se ligaram aos Beças Strech, da casa de Valbom, em Paço de Sousa, por casamento havido em 1802, Actualmente, julgo não existir na freguesia descendente algum legítimo dessa ilustre e velha estirpe.

Com tão dilatada divagação, quase nos íamos esquecendo dos escravos de Sobcarreira. Agora somos forçados a falar deles sumariamente. Chamaram-se Bernardo e Josefa e nunca experimentaram a ventura de se tornarem «aforros e livres». Faleceram em escravidão, por volta de 1740. Parece-me que os casos de libertação eram mais frequentes quando os possuidores dos escravos não tinham grandes meios de fortuna nem elevada posição social. Sujeitos esses patrões a uma vida mais dura - seria que se
tornavam naturalmente mais compreensivos do infortúnio dos cativos? Isto poderá ilustrar-se com um exemplo da mesma época, ocorrido também em Paço de Sousa. Um tal João Brás e sua mulher Rosa Maria, desta freg.a, concederam liberdade a um escravo, solteiro, de nome Caetano, com eles morador no lugar de Cadeade. Sem dúvida que se trata de gente de modesta condição; talvez por isso mesmo, mais humana... e cristã. A carta de alforria do Caetano tem a data de 15 de Fev.» de 1743 e foi escrita por Tomás Teixeira de Sousa, tabelião público na Vila de Arrifana de Sousa.
MONAQUINO


publicado por candeiavelha às 00:23 | link do post

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