Terça-feira, 7 de Setembro de 2010

Em todos os tempos floresceram ao sol do Cristianismo as mais variadas instituições devotadas ao serviço dos homens, impregnadas de espírito sobrenatural, ao menos na sua origem. As confrarias, albergarias e hospitais da Idade-Média três nomes então aproximadamente sinónimos foram expressão desse sentimento cristão de amor ao próximo. As albergarias dessa época ficaram bem assinaladas na toponímia do país, mas dentro do concelho de Penafiel existe apenas o topónimo Hospital em S. Mig. de Paredes e S. Paio da Portela —, se bem que, nos dois casos, só indicativo de terem existido no local bens pertencentes à Ordem militar dos Hospitalários de Leça do Bailio. Transcreve-se da memória paroquial de 1758, referente à Portela, a passagem que assim o confirma: «Ha

no logar de corveira huma caza antiga, e forte de mediana altura, com boa portada, com a Cruz da Religiam de Malta aberta em huma das pedras sobre a porta, que serve de recibo das muitas rendas, que Balio de Lesa tem por esta terra». Sem embargo disso, não deve oferecer dúvida alguma a existência duma albergaria ou confraria do Espírito Santo em Arrifana de Sousa. Essa realidade explicará em grande parte o facto da Irmandade da Senhora da Misericórdia — fundada no Porto em 1499 —, logo no dealbar do século de quinhentos, haver lançado fundas raízes em nosso burgo. De feito, estabeleceu-se aqui, «com compromisso», no ano de 1509, todavia alguns anos antes, «sem compromisso, se lhe avia dado principio, do que se infere que o teve no mesmo tempo que na cidade do Porto» (V. Penha-Fidelis — H. da Mis. de Penafiel, A. M.). A experiência algo similar da Confraria do Santo Espírito teria preparado o terreno para se receber, com franca abertura, a fundação da Irmandade da Misericórdia. A nova confraria teve a sede defronte da actual Matriz, como é sabido, mais ou menos onde teria existido a albergaria, pois no lugar fronteiro se erguia a igreja medieva do Espírito Santo, como se tem repetido muita vez. A que data remontará a Capela de N. S. das Dores, templo privativo da Misericórdia, há muito mais dum século votado a usos profanos? Das linhas que restam da primitiva fábrica se deduz não ter sido edificada antes da Matriz. A mais bela e pujante floração da Irmandade havia de começar no fim do primeiro quartel do séc. XVII com a erecção da Igreja da Misericórdia principiada em Maio de 1622 graças à munificência do P.e L. do Amaro Moreira de Meireles.
A terminar, uma pergunta: Penafiel já deu alguma vez digno testemunho público de reconhecimento ao mais insigne benfeitor da Misericórdia? O templo, o túmulo do fundador e a inscrição da capela-mor não serão o bastante para lembrar às gerações dos nossos dias o nome ilustre do generoso Abade de Ermelo.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1970-06-19, p.06


publicado por candeiavelha às 00:49 | link do post

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