Terça-feira, 7 de Setembro de 2010

O P.e José Pinto da Mota, da quinta de Sequeiros, em Luzim, já é nosso conhecido como proprietário que foi de três pessoas escravas. Aparte essa circunstância antipática - em certo modo desculpável à luz da ambiência sociológica da época - nada de menos digno me consta ter havido na sua vida sacerdotal. Esse padre, nascido em Sequeiros em 27-12-1679, foi para as «partes do Brazil» quando «mosso» porque os pais, de nome Domingos Fernandes e Isabel Francisca, para lá o «impuserão» (sic). Nessas paragens «asistira alguns annos e se hordenara de sacerdote para o que fizera seu património nas ditas partes do Brazil». Um dia, devido à morte do pai ou às saudades que o consumiam. «imbarquara para este Reyno» com intenção de estabelecer aqui morada permanente. Na qualidade de eclesiástico que era, não lhe consentiam as leis canónicas «avitar» na metrópole sem constituir novo património. (O património era uma garantia do decoro da vida do clero). Isabel Francisca, já viúva de Domingos Fernandes, resolvera esse problema do filho fazendo-lhe para tal fim, em 7-2-1729, uma doação de «toda a propriedade em que vivia, chamada a quebrada de Sequeiros», de que era «direito senhorio» a Igreja de Luzim. Foi desta maneira que o P.e Mota ficou a ser dono desta quinta. Aqui teve ao serviço um mulato, a que já se fez referência, bem como duas mulheres que não eram «pessoas branquas». Uma das escravas, por nome Sebastiana, servia em sua casa havia muitos anos, «com grande satisfação e provedade» e por isso o patrão quis deixá-la, após a morte dele, «forra e livre e desembargada como se fosse pessoa branqua». Para satisfazer tal desejo, mandou passar-lhe uma carta de alforria em 26-11-1731. Ao conceder-lhe a liberdade, mostrou-se muito pouco generoso, porque impôs a obrigação de ela continuar «athe a hora da sua morte, servindo-o com toda a umildade», sob pena de ficar sempre escrava e «pessoa imundua» (!), no caso de assim não proceder. Por falecimento dele, os herdeiros ficavam obrigados a entregar à Sebastiana duzentos mil reis, bem como todos os «vestidos» e «pessas de ouro» que ela então usasse, desde que tivesse cumprido «os condiçoins asjma declaradas». Em 1744, o P.e Mota vivia numa «grd.e e sumptuosa morada de cazas» que mandara construir em Sequeiros; nesse ano, pedira licença ao seu Prelado para erigir ai uma capela da invocação de S. Joaquim e S. Ana. Faleceu em 24-3-1752. Herdaram os bens que lhe pertenciam os sobrinhos José Pinto e Ana Maria. O óbito da sua escrava teve lugar em 3-10-1755. Pobre Sebastiana, pouco tempo gozou da sua alforria!

MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel,1969-08-15


publicado por candeiavelha às 00:17 | link do post

Palavras chave

todas as tags

Contacto
"Luz de Candeia Velha"

COM A COLOBORAÇÂO DO

 

 

 

blogs SAPO