No concelho de Penafiel existem pelo menos duas capelas particulares originariamente dedicadas a N. Senhora da Lapa - em relativo estado de conservação, embora talvez haja mais de setenta anos que não se
exerça nelas culto divino. A tradição oral terá esquecido a primitiva invocação, mas esta não pode ser posta em dúvida, porque a prová-la estão os processos canónicos da erecção das duas capelas, guardados no arquivo diocesano do Porto. A mais antiga, e melhor conservada, foi construída junto às casas da morada do morgado das Quintas, em S. Vicente do Pinheiro. O capitão Manuel da Cunha Coelho - herdeiro do morgadio e casado com D. Sebastiana da Cunha e Beça Leitão - foi quem mandou edificá-la no ano de 1696. Em breve parêntese, direi que ouvi falar muitas vezes a várias pessoas acerca do último «morgadinho das Quintães», António da Cunha
Coelho Barbosa, e de sua mulher, D. Carlota Máxima da Cunha - irmã de Gaspar de Baltar, o fundador de «O Primeiro de Janeiro». A outra capela é de mais recente fundação. Erigiu-se em 1767, no lugar de Perosinho, freguesia de Cabeça Santa, junto à casa de campo de um Domingos Pereira - «homem de negócio da praça da cidade do Porto e morador no bairro e freguesia de
Miragaia» - que então era senhor de uma quinta em Perosinho, hoje pertença da Casa de Mesão Frio. Não conheço
mais capelas particulares, sob a protecção da Senhora
da Lapa, dentro do nosso concelho. Além da capela incorporada na igreja da Misericórdia de Penafiel, a que já se fez referência, uma outra existe entre nós, que é pública e bastante afamada, onde se venera a Senhora, desde, tempos imemoriais. É a capela da Senhora da Lapa, em Lagares. No ano de 1622, o seu orago era S. António, cuja imagem ainda se encontra exposta à veneração dos fiéis, no retábulo do altar-mor; em 1710, a ermida já era nomeada como sendo da Senhora da Lapa ou S. António» (no altar-mor, do lado do Evangelho, está também a imagem de S. Antonino que, em tempos idos, era muito festejado). Mais tarde, porventura dentro do mesmo século dezoito, começou a denominar-se, simultaneamente, Capela da Senhora da Lapa e do Senhor dos Passos. O edifício da velha ermida sofreu profunda transformação em meados do século passado: Toda ela foi reconstruída, desde os seus fundamentos, e muito ampliada, no período decorrente de 1844 a 1855. Quiseram transformá-la num verdadeiro «santuário» - espécie de arremedo, ainda que bastante pálido, do Santuário da Senhora da Lapa, na província da Beira Alta.
O grande obreiro desse empreendimento - que pôs ao serviço da Senhora da Lapa, em Lagares, toda a sua alma e muito do seu dinheiro - foi um particular que não era natural da freguesia. Desse insigne benfeitor e seus valiosos cooperadores há-de falar a nossa modesta crónica.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1969-11-14, p.06