A predilecção e antipatia alimentadas em nós por este ou aquele nome fundamentam-se muitas vezes em razões que nós mesmos não chegamos bem a descortinar, tão fundo andam escondidas em nosso subconsciente. Acontecimentos jubilosos ou tristes — momentos felizes que se viveram ou infortúnios que nos ensombraram a vida — podem muito bem ter sido motivação decisiva de tal estado de simpatia ou aborrecimento por certos nomes, sejam próprios ou comuns.
Valerá a pena indagar porque o topónimo Peroselo me ecoa tão simpaticamente nas profundezas da alma? Com certeza não saberia decidir me entre as vozes que lá ressoam provindas dos meus avoengos maternos e a lembrança querida de muitas horas de folgança e alegre convivência, vividas em terras de Peroselo, no tempo da infância e juventude.
O leitor medianamente culto não ignora decerto que este topónimo, em sua etimologia, significa local de natureza pedregosa. Da primitiva palavra latina petra se formou o qualificativo petrosus (cf. Pedroso e Pedrosa), de que havia de derivar o diminutivo petroselus (em 882, Petroselo — P. M. H.). Com a sonorização da dental surda, aparece em 1258 (Inquis.) a forma Pedroselo, donde finalmente Peroselo e Proselo.
Não era, porém, o aspecto etimológico ou semântico do topónimo que me interessava sobretudo realçar neste momento, — senão certas características, algo peculiares desta freguesia, evidenciadas ao longo de séculos e conservadas até os nossas dias.
Todo o agregado paroquial de Peroselo, devido às condições do meio físico — povoação enclausurada entre montes — viveu naturalmente através dos tempos em maior isolamento que as demais terras circunvizinhas. Tal circunstância, se fomentou por um lado mais íntima unidade social entre os fregueses, foi também causa relevante da estreita ligação de parentesco entre as principais famílias da paróquia. A tal ponto se verificou este último aspecto — sem dúvida, nada útil à sanidade psíquica das pessoas — que se tornou proverbial dizer-se: «em Peroselo, todos são primos uns dos outros». O minucioso estudo, em que de há muito ando empenhado,
acerca da história das diferentes Casas antigas da freguesia, já me levou à conclusão de que tal ditado não está muito fora da verdade. Se Deus quiser, em futuro não distante, hei-de publicar, em trabalho de conjunto, tudo o que me foi possível apurar a esse respeito. Por agora — para não me arredar muito do tema que tenho estado a desenvolver aqui, desde Maio p. p.,—somente me hei-de referir à ramificação dos Moreiras, dentro da freguesia de Peroselo, enquanto isso pode ter qualquer ligação com a pessoa do Cónego Manuel Moreira. Apenas acrescentarei hoje que a presença dos Moreiras em Peroselo se efectivou por uma dupla via, como havemos de provar na semana que vem.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1971-07-02, p.04