Há meio século, por convite do P.e José Monteiro de Aguiar - oriundo da Casa do Bairro, em Galegos - tomei parte numa jornada de estudo que tinha por alvo a citânia do Mozinho, organizada por dois amigos de tão sapiente arqueólogo. Na manhã aprazada lá estávamos junto à igreja velha de Cidrões, à espera do Dr. Agostinho Lopes Coelho, da Casa de Lamego, em S. Vicente do Pinheiro, e do Tenente Coronel Lacerda Machado - promovido a General em 6-1-1932 - que então se encontrava a veranear nas Termas de S. Vicente. (Escusado será dizer que a estrada não atravessava ainda o Mozinho nas cercanias da Cidade Morta). Uma vez presentes, iniciámos a subida da íngreme encosta do monte, a passo muito lento, com pausas de permeio, a saborear o tema aliciante da animada conversa. Apesar da minha idade bastante juvenil não favorecer a compreensão e alcance de tudo que se ia dizendo, fiquei deveras encantado de ouvir falar, com tanta proficiência, da arqueologia e da pré-história, para mim um mundo até então quase desconhecido. Chegados ao cume do monte, em pleno coração da citânia - os três entregaram-se sem detença ao trabalho que ali os conduzira: a recolha, feita com critério verdadeiramente científico, de todos os elementos à vista capazes de contribuir para o conhecimento daquele oppidum, cujo nome e origem remota, ainda hoje se não descobriu ao certo. O P.e Monteiro de Aguiar, bem familiarizado com o Mozinho, apontava, prontamente, cheio de entusiasmo, as coisas de maior interesse arqueológico, descia depois ao pormenor, aventava hipóteses e fazia sugestões; o Tenente Coronel - humanista e homem de ciência - ouvia atento, formulava a sua douta opinião, para em seguida registar conscienciosamente as informações válidas que recebera; o Dr. Agostinho de Lamego - rectidão em pessoa e coração generoso - era o mais parco nas falas e com muita prudência emitia os seus juízos. Quanto a mim, pobre ignorante, ia servindo de moço da fita métrica e recolhia em silêncio no meu espírito, na medida do possível, o que brotava daquelas fontes abundantes em matéria de pré-história. Lacerda Machado - sócio da Academia de Ciências, membro de dois Institutos e autor de várias obras de investigação científica - não podia dispensar-se de elaborar uma memória fundada no que observara e ouvira naquela jornada do Mozinho. Apresentou-a no Instituto H. do Minho, em fins de 1919, e foi publicada depois em 1920 com o título Uma Cidade Morta.
COM A COLOBORAÇÂO DO