Terça-feira, 07.09.10

No intuito de remover sérias dúvidas, resolvi certo dia - já lá vão bastantes anos - fazer demorada visita ao lugar de Louredo, em S. Martinho de Penafiel.

Queria observar de perto, em pormenor, a vulgarmente chamada «capela de S. Cristóvão», embora, por ser monumento de veneranda tradição, a tivesse contemplado muitas vezes, sempre que passava de fugida pela estrada. Quando me abeirei do templo, fiquei deveras surpreendido ao deparar com uma placa metálica fixada na porta principal, onde está uma inscrição a dizer que a «capela de S. Cristóvão data de 1741 e foi a primeira matriz da Arrifana de Sousa - restaurada em 1954». (Por debaixo estão gravadas as letras B. V., que soube mais tarde serem abreviatura do nome do penúltimo possuidor da Quinta de Louredo). Dado que seja canonicamente legítima a invocação «de S. Cristóvão» - há ainda a assinalar um duplo erro em frase tão curta: a «capela» não pode datar de 1741 e não foi «a primeira matriz da Arrifana de Sousa». A minha displicência subiu ao cúmulo ao encontrar o interior da «capela» pavimentado com cimento, afora outros desatinados enxertos. (Muito tarda entre nós a formação generalizada de uma consciência cívica, capaz de proteger com segurança todos os valores arqueológicos e artísticos de sorte que não se percam para sempre certas coisas que são por vezes o único documento comprovativo da veracidade dos factos de determinada época histórica. Por mais que a Igreja e o Estado envidem esforços para incentivar esse espírito de conservação - um insensato exibicionismo, para não dizer estulta vaidade, aliado a uma atrevida ignorância, há-de continuar a destruir ou desfigurar muitas obras do passado, em obediência a caprichos de uma inadequada modernização). A «capela» de S. Cristóvão» está erecta no mesmo lugar onde se ergueu outrora a igreja paroquial de S. Bartolomeu de Louredo - antes disso tivera por orago S. Tiago - cujos muros de fábrica medieva devem ser ainda em grande parte os do templo actual. A data de 1741 poder-se-ia tomar porventura pela do ano em que se operou nesta igreja uma reforma, relativamente importante, com o acrescentamento da capela-mor existente e arco de comunicação interior em ogiva, e talvez substituição das pedras primitivas dos arcos ogivais da porta principal e da que fica voltada a Sul. A contrariar esta hipótese está o facto do altar-mor e altares laterais em madeira parecerem-nos obra do séc. XVII. Tão pouco o ano de 1741 terá sido o da mudança do orago de S. Bartolomeu para o de S. Cristóvão, que teria acontecido na altura em que o local da feira com o nome daquele Santo se transferiu de Louredo para o Monte do Povo e Vinha do Monte, em cujas cercanias foi construída também nesse tempo nova capela dedicada ao mesmo Apóstolo. Tal suposição não é aceitável pois António de Almeida, baseado nos livros das actas da Câmara M. de Penafiel, nos garante que essa transferência se realizou pelo ano de 1771.
As considerações acerca da «primeira matriz» de Arrifana não terão lugar desta feita.
MONAQUINO
In jornal de Notícias de Penafiel, 1970-03-06, p.06


publicado por candeiavelha às 00:35 | link do post

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