Terça-feira, 07.09.10
Não será panegírico, nem coisa que se pareça, em louvor de S. André, embora haja devoção verdadeira ao insigne Apóstolo e Mártir, Razão mais comezinha posto que séria e válida motiva hoje pôr-se em relevo o nome glorioso do Santo.
É que ele está ligado a um antiquíssimo topónimo da cidade do Porto para mim evocador da parte mais interessante da vida operosa do Cón. Manuel Moreira, natural de Peroselo.
De facto, existe no Porto uma rua de pequena extensão, chamada de S. André, que entronca na de S. Ildefonso e desemboca na Praça dos Poveiros. Tomou tal denominação por ter havido outrora neste local uma capela da invocação do mesmo Santo. Ora foi por ali, mais ou menos naquele sítio, que habitou o Cón. Moreira. No seu tempo, há mais de 250 anos, a Cidade não se tinha espraiado ainda para fora das muralhas fernandinas: S. André era então um arrabalde. Dêmos lá uma fugida na companhia do conhecido P.e Henrique M. da Cunha que ele nos informará da admirável obra realizada pelo nosso Cónego, nas Casas da sua morada. Não me digam que não, venham daí, que hão-de gostar! (Não reparem nestes modos de menos cortesia, mas é esta paixão dos homens e coisas antigas, que me anda cá dentro, e me faz perder às vezes a devida compostura).
O P.e Henrique, após a enumeração de muitas «prendas e virtudes» do Cónego seu parente e contemporâneo, acrescenta, no mencionado manuscrito, o seguinte: «O M.to Rev. P.e Manuel Moreira... recolheu, nas suas Casas, sitas a S. André, extra-muros da cidade do Porto, a muitos estudantes para estudarem Gramática, Filosofia e Teologia, dando-lhas de graça, sem aluguer, e sustentando a muitos destes do mais preciso e necessário, como também a criminosos que em sua Casa se recolhiam, e outras muitas pessoas que iam a negócios, para o que tinha quatro camas sempre patentes para o seu agasalho, servindo a sua Casa de um contínuo hospital para todos que nela se queriam recolher, parentes ou estranhos».
Que pensa, prezado leitor, do que se acaba de saber, graças à solicitude do P.e Moreira da Cunha?
Matéria mui substanciosa, direi eu, para longo comentário, se não houvéramos de prosseguir.
E já continuamos na leitura do precioso nobiliário. Não seja razão para mofar ou rir o que se lê em seguida: «...e por desprezo da sua própria pessoa, com suas próprias mãos, plantava coives, hortaliças e videiras nos seus quintais para remediar pobres e hospitais».
Tenho lido várias vezes estes passos do manuscrito, mas parece que nunca me deram, como agora, expressão tão clara da rara beleza espiritual e finura de coração do Cónego de Peroselo. Se me fora possível recuar nas idades, havia de verdade ir-me «recolher» e rogar «agasalho» à sua casa, sita a S. André, a fim de admirar mais de perto a autêntica Caridade que lhe enchia toda a alma.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1971-05-21, p.04


publicado por candeiavelha às 06:08 | link do post

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