Terça-feira, 07.09.10

Não sei se o Sargento-Mor de que se vai falar se notabilizou por algum feito militar, ao menos por ocasião das invasões francesas, mas certo é que foi homem de bastante preponderância social em terras de Penafiel, no último quartel do séc XVIII e nas três primeiras décadas dos anos de oitocentos. Viveu a maior parte da sua vida em Lagares e também em Valpedre. Chamou-se José Urbano Pereira de Melo e Alvim. Quem for medianamente entendido na genealogia das principais famílias daquele tempo, nesta região, logo há-de descobrir pelos apelidos que ele pertencia à boa estirpe da gente que vivera mais de dois séculos nas Casas da Granja, em Lagares, e Quintãs de Valpedre.

José Urbano nasceu em Março de 1745 na Quinta da Boavista, em S. Ildefonso, muito perto da muralha fernandina do Porto. Os seus pais já são nossos conhecidos: José Pereira de Melo e Alvim e D. Teresa Angélica de Melo. Sabemos também que eles herdaram essa quinta das mãos do tio Cónego Ribeiro Nunes. Aí viveram em relativa tranquilidade até que um dia a desventura lhes foi bater à porta. Primeiramente, o falecimento do marido de D. Teresa; mais tarde, a viúva sofreu o grande desgosto de assistir à venda em hasta pública da Quinta da Boavista.

Nunca teria passado pela mente do Cónego Ribeiro Nunes a ideia de que tão infausto destino adviria à sua casa, capela e quinta, dentro de tão pouco tempo. Se o houvera previsto, com certeza o Cónego morreria de desgosto. Bem falíveis são os cálculos dos homens!

D. Teresa Angélica acolhera-se então junto da sua irmã D. Perpétua Luísa, na Casa da Granja, em Lagares. Esta já nessa ocasião era viúva do Cav.o Fr. Manuel Leite de Melo, que falecera em Janeiro de 1761.

José Urbano, à semelhança do avô paterno, ingressou na carreira das Armas. Em 1778, morava «defronte do Calvário» na cidade do Porto, mas em 1779 já residia também em Lagares. Novos rumos iam abrir-se agora para a sua vida. Assim, em 5-11-1781, na Capela de S. António da Granja, «com licença do Prelado», casava-se com uma sua parenta em 2.o grau, Dona Joana Thereza da Cunha Serqueira Pereyra de Mello Alvim, filha legitima de Manuel José Ribeiro de Macedo e Melo e de sua mulher D. Jacinta Bernarda de Carneiro e Melo, da Casa das Quintãs em Valpedre — neta paterna de Jerónimo de Macedo e Melo e de sua mulher D. Mariana Luísa Clara: neta pelo lado materno de Jacinto Carneiro Sequeira e Melo e de sua mulher D. Maria Josefa de São Jacinto, da freg.a do Salvador de Resende.

Por aqui se vê que José Urbano contraíra matrimónio com uma neta de uma irmã de sua mãe, muito nossa conhecida também: D. Mariana Luísa Clara, que fora casada com Jerónimo de Macedo e Melo, das Quintãs de Valpedre. José Urbano, além de Sargento-Mor, foi também Capitão-Mor. A sua residência preferida foi na Casa da Granja, se bem que estivesse, com frequência na Casa das Quintãs. Da última vez a fazê-lo, adoeceu aqui gravemente sobrevindo-lhe então a morte. Aí faleceu, cm 24-5-1831, e foi sepultado na igreja de Valpedre, em sepultura que era propriedade da sua Casa.

Já agora não resisto à tentação de contar ter sido também ocasionalmente que morreu nas Quintãs uma das duas irmãs de José Urbano que foram professas no Convento de Monchique, no Porto. Aconteceu isso com a Religiosa D. Joana Bernardina. Saíra «com Breve» do seu Mosteiro «afim de tomar banhos e aguas sulfureas», vindo hospedar-se «em casa de seo Irmão e sobrinhos na Quinta das Quintans». Mas não regressou ao Convento, porque no dia 2 de Fevereiro de 1815 «passou desta vida p.a a Eterna»...

Foi a sepultar na Igreja de Valpedre «envolta em seo habito» e seu Irmão «o Cap.am Mor Joze Urbano Per.a de Melo Alvim» mandou fazer-lhe «um oficio de Exequias».

 

MONAQUINO

In jornal Notícias de Penafiel. 1972-05-19, p.06





publicado por candeiavelha às 06:29 | link do post

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