Desconheço a data ao certo em que o Dr. Ant.o de Almeida deixou Coimbra — terra natal, em cuja Universidade se formou —, por lhe ter cabido em sorte vir exercer a sua profissão em Penafiel, onde foi médico do partido. Não resta dúvida, porém, de que antes de completar 26 anos de idade já estava a viver nesta cidade, sendo morador na rua dos Remédios. O valor humano da sua pessoa e a competência profissional, que logo se evidenciaram, impuseram sem demora o jovem médico ao respeito e admiração de todos. Este caso do Dr. A. de Almeida sugere um resumido apontamento de feição sociológica.
No nosso tempo dá gosto observar um aumento constante das facilidades, de vária ordem, destinadas a promover a elevação do homem. Caminha-se, a passos largos, para um relativo nivelamento, melhor se diria, para uma aproximação cada vez maior do nível de vida das diferentes classes sociais. Nisto está implícito também o louvável intento de se alcançar mais generalizado aproveitamento dos autênticos valores, que amanhã hão-de servir melhor os verdadeiros interesses da comunidade,
O que se passou com o médico Almeida era coisa rara naqueles tempos (de fora parte a promoção por via eclesiástica). Do assento do seu baptismo, sabemos que o pai tinha o ofício de barbeiro, em Coimbra; sua mãe, antes de casar, fora em «São Galhos» simples criada-de-servir. Sem dúvida, gente de condição humilde, mas muito honesta. Apesar de tudo, mercê do seu talento e esforçada vontade — António de Almeida ilustrou-se invulgarmente e conquistou posição de assinalado relevo na sociedade do tempo. A sua ascenção na ordem social recebeu confirmação e ficou mais realçada quando se casou com uma distinta Senhora do meio penafidelense.É agora a oportunidade de inserir aqui o assento do casamento do notável médico.
Por cópia fiel, é o seguinte:
= Aos onze do Mes de Abril de mil sete centos, noventa e três, feitas as denunciaçois na forma do Sagrado Concílio Tridentino e Constituição do Bispado, com ordem do juizo, que passou o escrivão Barretto, de manhaa nesta Igreja de S. Martinho de Penafiel na presença de Fr. António dos Serafins, de minha licença a que também assisti eu Joze Mendes da Costa, e das testemunhas o Doutor Joze Pereira Monteiro e Francisco Joze Pereira Ferras, clérigo in minoribus, ambos desta Cidade, se receberão com palavras de presente — o Doutor António de Almeida, filho legitimo de Caetano de Almeida, e Francisca Thereza da Piedade, aquelle natural da Freguesia do Salvador (sic) da Cidade de Coimbra, e ella da Freguesia de S.Vicente, de Sangalhos Bispado de Aveiro: Nepto paterno de João de Almeida, natural de Toloza Priorado do Crato, e de sua mulher Thereza da Silva Caldeira, natural da Villa de Arganil: e materno de Domingos Francisco, e de sua mulher Maria Rodrigues de Bairros, da dicta de Sangalhos: — e D. Marianna Joaquina Pereira Bessa Velozo de Barbosa e Almeida, filha legitima de Francisco Joze Pereira Monteiro, e de D. Anna Joaquina Bessa, aquelle natural desta Cidade, e esta da Freguezia de S. Martinho de Recezinhos, e por acazo baptizada na de Santa Martha: Nepta paterna de Domingos Pereira Monteiro, natural de Santa Maria de Sobre Tâmega, e de sua mulher Jozefa Gomes Moreira, natural desta freguesia; materna de Bernardo Luiz de Bessa Velozo Barbosa desta mesma, e de Eugenia da Cunha da dicta de Recezinhos, e ambos assistentes nesta Cidade, ella na Rua das Chans, e elle na dos Remédios, e fis este assento que assigno com as testemunhas. Encomd.o Jozeph Mendes da Costa —Fr. António dos Serafins—Joze Pr.a Monteiro — Francisco Joze Pereira Ferras.
A' margem: Dr. António de Alm da e D. M.ria Joaq.a Per.a,
A. Mendes—Teve as bençois nupciais — Mendes =
S. Mart.o de Penafiel
L. I—C—F. 256 v.o
MONAQUINO