Terça-feira, 07.09.10

João Correia entregara a alma a Deus no ano de 1537. Um Reitor de S. Martinho de Arrifana, o P.e L.do Manuel Rangel de Araújo, asseverou em 1624 que ele falecera «com reputação de Santo» (como consta da gazeta «O Século XIX», publicada em Penafiel em 1864). Ocorreu a sua morte, em odor de santidade, diz o aludido Pároco, «pelas muitas obras de caridade que em sua vida fez aos pobres, e zêlo pelo culto divino, pelo que deu a todas as egrejas, capellas e confrarias d'este lugar e freguezia, mandando vir varias imagens e retabulos de Flandres à sua custa». Para não falar de outras coisas mais, direi que bem formosa vista havia de oferecer a capela-mor da igreja do Espírito Santo com o seu «retábulo antigo de Flandres à sua custa». Para não falar de outras coisas mais, direi que bem formosa vista havia de oferecer a capela-mor da igreja do Espírito Santo com o seu «retábulo antigo de Flandres, que elle mandou vir, todo dourado em que está Nossa Senhora do Rosário e S. Matheus, outros muitos Santos, tudo estofado em ouro». E a propósito, um parêntesis: não seria de muito interesse fazer-se um inventário, e até mesmo organizar-se em Penafiel uma exposição das imagens antigas de real valor existentes na cidade e concelho, o que era com certeza meio indirecto de obstar a que a voragem dos mercenários e amadores de antiguidades levasse para fora da nossa terra o pouco que nos resta do património histórico-artístico do passado?

João Correia para dar testemunho aos vindouros da sua Fé católica quis ser sepultado na capela-mor da igreja que reconstruiu e ficar retratado na lâmina de bronze, vinda também de Flandres, para cobertura da sua campa de pé, está ele, mãos erguidas e rosário pendente, em atitude, de quem reza com devoção. (Queria lembrar nesta altura um trabalho do malogrado historiador e arqueólogo Dr. Pedro Vitorino, intitulado Uma Lamina Sepulcral de Bronze — publicado em 1926 na Ilustração Moderna, n.º 8 — que não tenho visto citado e julgo ser o que de melhor se escreveu até hoje acerca da lâmina da Igreja Matriz de Penafiel). Tudo isso não seria uma hábil forma de exibicionismo da parte do rico mercador? Não o creio. O Reitor Rangel de Araújo não ousaria ser menos verdadeiro: João Correia «morreu com reputação de Santo». Não deixará, no entanto, de ser objecto de estranheza, para quem o ignore ainda, tomar-se conhecimento de que o mercador de grosso trato do burgo arrifanense foi um católico converso do Judaísmo. De judeu de raça e crença religiosa tornara-se um dia cristão-novo convicto. Bem queria eu vir aqui expor dados seguros a respeito da origem e ascendência deste João de Arrifana, mas as «memórias» correntes de que sou conhecedor não me dão garantia de certeza indiscutível.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1970-05-01, p.06


publicado por candeiavelha às 00:43 | link do post

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