Antes de mais, muita desculpa à Ex.ma Direcção do Notícias de Penafiel, — sempre tão acolhedora e compreensiva deste pobre velho, solitário do Mozinho — por causa de vir hoje aqui intercalar um tema muito aparte daquele que prometera versar sem interrupção, até final, qual fora dar à estampa a documentação em posse, relacionada com a pessoa do Dr. A. de Almeida. A causa desta interposição, porque não dizê-lo? é o prazer que senti de me ter chegado às mãos, há poucos dias, um documento que o Prof. Robert C. Smith e o Prof. Flávio Gonçalves muito gostariam de certo ter conhecido, quando se ocuparam há anos da talha da igreja de S. Mig. de Bustelo, de Penafiel. O primeiro, como se sabe, é o notável historiador de Arte, professor na Univ. de Pensylvânia, autor de vários trabalhos em português, da sua especialidade, dos quais interessa agora citar apenas A Talha em Portugal (Lisboa-1962-1963). Nesta obra, volumosa e ilustrada, assente em rigorosa documentação — aliás como todas as outras da sua autoria — Smith referiu-se à talha da igreja de Bustelo, a p. p. 109-110. Ao quedar-se em considerações sobre o retábulo da capela-mor, disse que era «lógico» — à luz da análise dos dados estilísticos — concluir que ele se devia à «arte de Manuel da Costa de Andrade e às lições de Miguel Francisco da Silva», — acrescentando que, embora não tivesse «documentação» a esse respeito, tudo levava a crer ter sido executado entre 1745 -1750.
Mais tarde, Flávio Gonçalves — Prof. da E. S. de Belas-Artes do Porto e ilustre polígrafo — retomou o mesmo assunto em dois excelentes artigos publicados na secção Cultura e Arte do jornal O Comércio do Porto (13 de Abril e 25 de Maio de 1965), sob a epígrafe A construção da Igreja de S. Miguel de Bostelo e a sua talha dourada. Na última parte do 2.º artigo, encontra-se a seguinte afirmação: «Segundo o texto do L.° dos Óbitos de Bostelo, o retábulo-mor da igreja conventual data o mais tardar de 1742 -1743 — indicação que, a estar certa, se me afigura de importância, por provar que não só depois do retábulo da igreja de S. Ildefonso (Porto) começaram os arquitectos e entalhadores da zona portuense a aprender a lição do rococó».
— Terá Flávio G., ou outrem, quem quer que seja, encontrado prova definitiva, a confirmar como «certa» a cronologia do citado L.° dos Óbitos? Ignoro. É por isso que informo os prezados leitores de que tenho presente uma escritura lavrada a 17-7-1742, do L.° de Notas do tabelião J. Francisco Teixeira, da cidade do Porto, na qual «Josephe de Afonceca, mestre emaginario e morador na rua das ortas da freguesia de São Ilfonço, extramuros», se ajustou e contratou com «frei João Bauptista, Dom Abbade do Mosteiro de Bostello» a fim de «lhe haver de fazer toda a obra do Retavello e trevuna da Capella mor do dito seu mosteiro».
A «indicação» do L.° dos Óbitos está, pois, mui «certa»!
Praza a Deus que o texto integral da referida escritura venha a ser publicado na parte documental dum futuro boletim de cultura de Penafiel.
MONAQUINO