A actividade pastoral de um Pároco pode constituir capítulo importante da história de qualquer freguesia quando consegue imprimir na alma do povo um sulco profundo de autêntica espiritualidade. Obreiro de verdadeira edificação - é digno de memória abençoada e duradoira! Há tempos encontrei um Abade de Galegos que merece ser posto em relevo, pois a meu ver ajusta-se bem, na generalidade do seu todo, ao conceito do Pároco modelar, segundo as normas da Igreja e condições sociais do século em que viveu. Vou tentar um pequeno esboço da sua personalidade... Assinava-se tal qual: Abb.e Man.el de Saa e Menezes. Sucedeu na freg.a ao Abade António Dias e já paroquiava Galegos em Out.° de 1676. Sua mãe, a viúva D. Brites, esteve na sua companhia até ao falecimento, ocorrido em 11-3-1692. Os traços fundamentais da fisionomia espiritual deste Abade foram colhidos, na maior parte, no testamento com que falecera - escrito em 18-4-1704 - que se encontra transcrito no L.° 174 da Provedoria (A. D. do P.). De todo ele ressalta a sua qualidade de homem íntegro e de padre ao serviço de Deus. Com uma Fé católica inquebrantável, protestou viver e morrer em união com a «Madre Igreja de Roma», esperando salvar-se pelos méritos do seu «Senhor Jesus Cristo». Como não tinha «herdeiro forçado» - instituiu a própria alma sua herdeira universal. Por amor ao seu povo, quis ser sepultado na capela-mor da igreja de Galegos, onde se rezaram por sua alma, logo após a sua morte, três ofícios de quarenta padres cada um, acompanhados a «muzica de Canto de órgão». Por ser muito devoto da Sr.a da Conceição da mesma igreja, legou-lhe cem mil réis para se «festejar a dita nossa Senhora todos os annos». Deixou também quinze mil réis para se acabar de pagar o retábulo de S. Ana. Ficou bem declarado no testamento que não tinha dívida nenhuma e contemplou os pobres da freguesia com avultada esmola. A generosidade do Ab.e Sá e Meneses para com os seus dedicados criados foi grande: herdaram várias peças de mobiliário (cadeiras e tamboretes «encourados», armários que foram do escritório do seu pai, bufete e mesa «dobradissa»...), além de roupas do bragal e outras mais, sem contar o dinheiro, fora da soldada. O cura da freg.a - P.e Domingos Soares - não foi esquecido. Aos testamenteiros - pessoas de sua amizade - presenteou com um bufete, um contador e quatro libras em oiro.
COM A COLOBORAÇÂO DO