Foi no mês de Janeiro de 1732 que o Jerónimo de Araújo Leão de Macedo e Melo se consorciou com D. Mariana Luísa Clara Ribeiro. Com muitos dias de antecedência, em casa do Rev. Cónego Domingos — na Quinta da Boavista — um tabelião do Porto lançara no seu Livro de Notas uma escritura de dote a favor dos futuros esposados. Quanto ao dote, as coisas passaram-se, mais ou menos, como vou contar em resumo.
A noiva dissera que se dotava com quinhentos mil réis que lhe deixara seu tio António Ribeiro Nunes, falecido no Rio de Janeiro; a mãe de Mariana, a Snr.aMaria Ferreira da Cruz, que estava presente — já viúva do Alferes Manuel Ribeiro Nunes — deu em dote à sua filha duzentos mil réis; o tio Cónego Domingos, «pello muito amor que tinha à sobrinha», fizera-lhe mercê de quinhentos mil réis, sem levar em conta os quatrocentos mil réis que havia gastado com ela, «empessas de ouro e prata, custosos vestidos, moveis e trastes de caza».
Por outro lado, o Capitão António de Araújo Leão — «para os encargos do dito matrimónio, se tivesse effeito» — dotara o filho Jerónimo com a «quinta ou Casal das Quintains, com todas as suas pertenssas», em que vivia em Valpedre, juntando-lhe as casas e terras que possuíram os seus tios P.e Agostinho da Rocha e P.e Manuel de Araújo — além de outros bens. E mais disse ainda que reservava para seu sustento e dos dois filhos solteiros — Manuel e António — o terço de todo o pão, vinho, azeite e castanhas, bem como de toda a espécie de legumes colhidos nas mesmas propriedades. No caso de não ficar a viver com seu filho e nora, utilizaria «a salla nova que fés e a cozinha da heira e a logea para ter sua besta, que pensará na dita quinta».
Esta escritura de dote, com que haviam de casar Jerónimo e Mariana, foi testemunhada pelo Abade Inocêncio Murrão de Morais Alão e pelo Governador das Armas da cidade do Porto, António Monteiro de Almeida; nela se encontram as suas assinaturas, assim como as de todos os intervenientes deste público documento. Só lhe falta a assinatura da mãe de D. Mariana, «que por dizer não sabia ler nem escrever, rogou a seu filho, o Rev. Con. Domingos Ribeiro Nunes (júnior), que por ella assignasse».
Decorrido mais de mês e meio, realizou-se, a 9-1-1732, o enlace matrimonial. Com licença do «Senhor Governador do Bispado», o casamento pode efectuar-se na Capela da Senhora da Conceição, pertença da mesma Quinta da Boavista.
Como era de esperar, assistiu como oficiante ao solene acto religioso o tio Cónego Domingos.
Foi um dia de muito júbilo na Casa da Boavista! Estiveram ali presentes «muitas pessoas», como se pode ler no assento do casamento. Lá estavam com certeza convidados das famílias da Cidade mais intimamente relacionadas com os dois Cónegos Domingos; fora de dúvida também foram presentes amigos e parentes dos noivos, vindos das freg.as de Peroselo, Gandra, Valpedre e Lagares. Serviram de testemunhas do acto religioso dois primos do noivo: Manuel Leite de Melo, senhor da Casa da Granja, em Lagares, e o P.e Jerónimo de Melo e Macedo, da Casa de Perosinho, sita em Gandra da Cabeça Santa.
Jerónimo e Mariana foram viver na sua Quinta das Quintãs, em Valpedre. Foi aí que lhes nasceu o primeiro filho, chamado Manuel, em 1-11-1733. Baptizou-o o tio Cónego Domingos, tendo sido padrinho o Rev.mo Doutor Frei Manuel dos Serafins — então «Geral dos Padres de S. Bento» — que fora irmão da avó paterna do neófito.
Longos e venturosos anos viveram nas Quintãs.
De verdade, foi um casamento muito abençoado por Deus!
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1972-01-21,p.04