Terça-feira, 07.09.10

O mistério sempre exerceu poderosa atracção sobre o espírito do homem. Não se faz mister ir à Grécia aprendê-lo ou a outros povos antigos com fama de sapientes. O nosso Eça e o Ramalho eram sabedores dessa verdade ao empreenderem escrever, para gáudio seu, e por amor à Arte, O mistério da estrada de Sintra. Mesmo qualquer fabiano, com fumos de literalismo, não terá deixado de entretecer em prosa ou verso, os misteriozinhos da sua estrada na vida, na mira de glória fácil. É certo que as coisas deste mundo tornam-se naturalmente sedutoras ainda quando o véu que as envolve seja mais denso do que o queiroziano «manto diáfano da fantasia». Acusa-se a Idade-Média de ter sido apaixonada do legendário, quer dizer, amante do misterioso, mas os homens do nosso tempo — tão devotos da crítica objectiva, ou seja da «nudez forte da verdade» — não deixam de pagar também pesado tributo ao culto do humano mistério. É ver, até eu mesmo, estou para aqui agora em tentativas de tornar misteriosa uma epígrafe trivial, de fácil entendimento: O Padre António do Médico.

Que teia emaranhada poderá andar à volta dum padre e dum médico?
— Nenhuma, neste caso. Trata-se de coisa muito simples e bem esclarecida no Penafiel (Hontem e Hoje), p. 46, onde se diz:
«(...) o padre Antonio do Medico (Antonio Vitorino de Almeida, chamado do Medico, por ser filho do notavel medico Dr. Antonio de Almeida, sócio da Academia Real das Sciencias, que muito ilustrou Penafiel».
É verdade, um médico, que foi militante muito activo da facção liberal, em Penafiel e não fugiu por isso à fama de pedreiro-livre, — pai dum sacerdote!
O P.e António Vitorino nasceu na rua das Chans a 17-1-1795. Foi baptizado na Matriz da freguesia aos 29 do dito mês e ano, pelo P.e Custódio de Sousa Nogueira, tendo sido padrinhos o Dr. J. Per.ª Monteiro, avô materno do neófito, «por procuração que mostrou de seu filho Frei António dos Serafins, monge beneditino», e o P.e Francisco J. Per.ª Ferraz, como procurador de «sua Mana Dona Gertrudes Narciza». No assento do baptismo deste filho de referido médico (que se encontra no L.° 5.º dos B.os de S. Mart.o de Penafiel, fls. 216 v.), vem expressa a freg.a de S. João de Almedina, da cidade de Coimbra, como sendo a da naturalidade do Dr. A. de Almeida. Os pais de António Vitorino constituíram-lhe património em 5-4-1816, a fim de poder receber o subdiaconato. Ordenou-se de presbítero em 19.9.1818. Em 1821, foi pároco encomendado de S. Mart..o de Rio de Moinhos, mas a maior parte da sua vida decorreu sempre na cidade. No ano de 1844, já falecidos seus pais e contando 49 anos de idade, permanecia em Penafiel, como simples «confessor e capelão de missas». Foi um «desvelado protector» da Ordem Terc.a do Carmo.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1970-12-11, p.06


publicado por candeiavelha às 06:01 | link do post

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