Terça-feira, 07.09.10

Dois ribeiros nascem em Peroselo. A bem dizer, só existe aí um ribeiro. O «ribeiro das Lavras» — que desce das bandas de Vilarinho desemboca, após breve percurso, no ribeiro que tem sua origem junto à presa de Vilar — não é mais que um ribeirito ou simples regato. Ribeiro, sim, é o que vem de Valqueira, atravessa Peroselo, de lés a lés, mete-se por Fontão abaixo, corre ao fundo de Perosinho, para se ir lançar pressuroso no Tâmega, em Rio de Moinhos.
Não longe da sua nascente, gerou ele um topónimo que não se envergonha do seu progenitor: o Ribeiro, lugar contíguo ao de Valqueira. Casa do Ribeiro se denomina também uma moradia muito antiga, cujas paredes se erguem mesmo rentes às suas águas, naquele sítio. Aconteceu ainda que muitos dos descendentes da família que habitou ali — pelo menos desde meados do séc. XVI — começaram a usar, no século de seiscentos, o apelido Ribeiro. No número destes, contam-se vários clérigos.
Desculpará o prezado leitor se descobriu qualquer artimanha, por inocente que seja, na feitura deste pequeno preâmbulo, — mas o fito que tive foi o de arranjar pretexto para falar aqui de dois eclesiásticos ligados, pelo lado paterno, à Casa do Ribeiro, em Peroselo: o Cónego Domingos Ribeiro Nunes e um Cónego, sobrinho deste, seu homónimo. Hoje só tentarei delinear tosco perfil do Cón. tio Domingos.
O pai deste eclesiástico nasceu na Casa do Ribeiro, no ano de 1648, e chamou-se João Gonçalves Ribeiro (o patronímico Gonçalves já era de tradição familiar muito velha). Casou ele com Maria do Couto, e teve geração. O filho Domingos veio à luz do dia em 1675. Aos oito meses de idade ficou órfão de mãe e foi uma 2.a mulher de João G. Ribeiro, de nome Maria Francisca, que o ajudou a criar-se, com desvelada dedicação maternal. Cresceu. Na idade das opções, escolheu a carreira eclesiástica. Sendo já presbítero e morador em Vilarinho, encontrámo-lo em Abraqão, a 2-8-1701, perante o Tabelião A. da Rocha Ferraz — do extinto conc.o de Portocarreiro — a receber das mãos de Maria Francisca uma doação de todos os bens que ela possuía. Doara-lhos por não ter filhos do seu 1.o marido — Belchior Gonçalves — nem os haver do segundo matrimónio, além de que se encontrava com «grave idade e muito doente» e só o P.eDomingos «della tratava e curava com grande amor e zello».
Mais tarde, o P.e D.os Ribeiro Nunes, induzido talvez pelo exemplo do seu conterrâneo Cón. Manuel Moreira, decidira empreender uma viagem a Roma, na mira de conseguir do Papa o benefício de uma conezia na Sé do Porto. Lá partiu pois, de longada para a Cidade Eterna, onde logrou alcançar que Sua Santidade«fosse servida fazer-lhe graça de o prover em o Canonicato e Prebenda» que havia possuído, na Catedral portucalense, o Rev. Luís de Sousa Carvalho.
Por uma petição que fez ao Cabido do Porto, após o seu regresso a Portugal, sabe-se que a sua ida a Roma o obrigara a «muitos gastos», sem contar o grave prejuízo de ter sido «roubado na viagem»! Estas circunstâncias devem ter influído no ânimo dos «R.dos Senhores do Cabido da dita Sé» para eles se apressarem a «mandar tirar as inquirições de puritate sanguinis» — condição indispensável, a da limpeza do sangue, para lhe ser dada a posse do benefício canonical.
As diligências de genere efectuaram-se em Peroselo, em 5-9-1709, e o acto da tomada de posse foi logo no dia 7, do mesmo mês e ano.
Desta sorte um Ribeiro de Peroselo se promoveu eclesiástica e socialmente.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1971-11-26, p.04



publicado por candeiavelha às 06:19 | link do post

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