A ermida de Louredo haverá tomado por orago S. Cristóvão já nos fins do séc. XVIII quando no Monte do Povo se erigiu novo templo «com o tt.° e invocação de S. Bartlomeo», facto mais ou menos coevo da mudança de local da feira, de 24 de Agosto. A memória paroquial de S. Mart.° de Penafiel de 1858 foi o documento até hoje mais antigo onde encontrei mencionada a capela com o nome de S. Cristóvão; na memória de 1758 é designada ainda por «ermida de S. Bartholameu», o mesmo sucedendo no Catálogo de D. Rodrigo da Cunha (1623). Antes disso, até 1569 - ano em que a paróquia de S. Tiago de Louredo foi em parte incorporada na freg.a de S. Mart.° de Arrifana - não nos aparece, em Penafiel, igreja paroquial com a denominação de S. Bartolomeu. A existência da paróquia de S. Tiago, com sede em Louredo, está sobejamente comprovada por documentos da maior valia, tanto de natureza civil como de carácter eclesiástico. Recorremos a fontes das mais fidedignas: as Inquirições e os Censuais da diocese do Porto. «A «inquisitio» de 1258 ocupa-se da igreja «Sancti Iacobi de Louredo», com relativo pormenor. Por ela se vê que a paróquia medieval de S. Tiago de Louredo compreendia, além do mais, a área da actual freguesia de S. Tiago de Sub-Arrifana, incluindo o lugar de Monterroso. Não se fala em S. Bartolomeu. A Inquirição de D. Dinis é muito mais reduzida e a paróquia vem mencionada como sendo de «sanctiago de Riba de Sousa de Louredo». (Este «Riba de sousa» parece que devia arredar para sempre a hipótese de que foi a família dos Sousas que originou o determinativo de Arrifana, freguesia contígua, que se estendia também, na sua delimitação, até junto da margem esquerda do Sousa). Entre a documentação de origem eclesiástica merece ser apontado em primeiro lugar o testemunho do Censual do Cabido que não se refere a nenhuma igreja de S. Bartolomeu, ao enumerar as paróquias do Arcediagado de Penafiel, registando «Ecclesia Santi Iacobi i santiaginho». Além desta prova, podemos ainda aduzir uma outra tirada do Censual da Mitra, do ano de 1542—há longo tempo perdido (suposto até mesmo por alguns nunca ter existido) e que um jovem sacerdote, inteligente e culto, actual Assistente da Fac. de Letras do Porto, felizmente encontrou, havendo-o escolhido para tema da sua dissertação de Licenciatura. A organização desse cartulário é apenas 21 anos anterior à incorporação da igreja de Louredo na freg.a de S. Martinho de Arrifana e também se refere somente à «igreja de Santiago e santiaguinho». A igreja paroquial de S. Bartolomeu de Louredo não existiu, pois, antes do ano de 1542, nem é crível ter existido depois, no curto espaço de tempo que vai até 1509, a partir de cuja data a Igreja de Louredo passou a constituir uma simples ermida da paróquia de S. Mart.° de Arrifana. Valeria a pena tentar uma explicação do equívoco de Fr. A. Meireles? Agora não é oportuno fazê-lo. De resto, não é resto, como lá diz Horácio na sua Carta aos pisões, que «o sono também pega algumas vezes em Homero»?
COM A COLOBORAÇÂO DO