Arrifana de Sousa - vila de vinte e nove anos apenas, quatro séculos, mais ou menos, como sede do concelho, e mais de quinhentos anos de fundação - desaparecia oficialmente do nosso toponomástico em 1770, como todos sabem. Começara por ser simplesmente Arrifana mas juntara-se-lhe depois o determinativo «de Sousa», para se distinguir das numerosas povoações do mesmo nome havidas no Reino. Ainda existem hoje vinte e oito Arrifanas e duas Arrifaninhas. Por estranho que pareça, não é propriamente da Arrifana, sita nas proximidades do rio Sousa - seu elemento identificador - que vou ocupar-me agora: é de uma outra Arrifana, existente ainda, no concelho de Penafiel, em pleno monte Mozinho. Não estou enganado - esta Arrifana não é produto de imaginação, mas realidade incontestável! Coleccionador dos topónimos mais característicos da nossa terra - no aspecto arqueológico, histórico ou linguístico - fui levado um dia a interrogar alguém familiarizado, desde muito jovem, com a onomástica das sortes ou parcelas de montado, pertença de senhorios vários, situados na denominada Praina do Loureiro e suas circunvizinhanças (rica zona dolménica que foi, como ouvia amiúde ao P.e Monteiro de Aguiar), na área sul do Mozinho, termo de S. Paio da Portela e de S. Marinha da Figueira. A par de nomes já conhecidos, - Penedo do Corvo, S. Iria ou Mosteiro das Freiras, S. Antão, etc. - foi-me dado conhecer então, pela primeira vez, além de outros, o Penedo do Facho, as Conguinhas e, com grande surpresa, a «sorte maninha da Arrifana». O conhecimento de uma Arrifana no Mozinho, reveste-se, a meu ver, dum duplo interesse. Será prova, indirecta de que Arrifana de Sousa, na sua etimologia e fundação, não deve ligar-se - como aliás já se tem insinuado - a Arriana, nome da filha de D. Mumadona Dias e do conde Ermenegildo, herdeira por morte do pai, em 950, da villa de Novelas. Por outro lado, constitui o facto uma achega a confirmar a tese de que o topónimo Arrifana proviera de um vocábulo comum, arábico na origem, que tomara entre nós, como em todo o Pais, um significado ainda incerto. Tratar-se-ia de qualquer planta mourisca, da família das mirtáceas, hoje desaparecida, que outrora vegetasse em lugares montesinos? Não tive ocasião de observar in loco a natureza e configuração do terreno da Arrifana do Mozinho. Segundo me foi atestado, é uma espécie de cova ou poça, como diz o povo, no meio da qual está um penedo isolado, largo na base e adelgaçado na extremidade.
No coração de Arrifana de Sousa havia também o lugar do «Fraguedo». Seria ingenuidade perguntar se não terá sido um rochedo, de feitio determinado, a dar origem às Arrifanas? David Lopes, ao falar da ilhota de Arrifana, no Algarve, diz que «ela não é mais que um rochedo que se eleva a meia altura da rocha da costa; nos Açores, a palavra arrifana expressa um lugar onde há algum arrife, cujo significado também é de «penedo» e «cabeça de rocha». É isto um devaneio etimológico? Perdoem-me os cultores da verdadeira Filologia.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel 1970-02-20
COM A COLOBORAÇÂO DO